Jornadas Europeias do Património – 25, 26 e 27 Setembro

Este ano, as Jornadas Europeias do Património, ocorrem nos dias 25, 26 e 27 de Setembro, com o tema “Património e Educação”. Nas aulas de História, vamos assinalar a Semana do Património, com conversas em torno da História, da Arqueologia e do Património Cultural de Oeiras, guardiã do Tejo e do Atlântico. Partindo do local ao global, recuperamos aprendizagens e desenvolvemos competências!

Juntos, construímos conhecimento!

AEAR: Entrevista com Ana Fermoselle

A Escola Básica e Secundária Aquilino Ribeiro, sede do Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro, faz parte da Rede de Escolas Associadas da UNESCO desde 20 de Novembro de 1991, sob a tutela da Comissão Nacional da UNESCO.

O Núcleo da UNESCO surge naquela data dinamizando, primeiro na escola sede e posteriormente em todas as escolas do Agrupamento, práticas pedagógicas inseridas numa cultura de Paz, de acordo com o objetivo geral das escolas associadas: “através da educação, aprender a viver em conjunto numa comunidade global”.

É desde 2002/2003 que a professora Ana Fermoselle coordena esse Núcleo.

A UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e em Portugal conta com mais de100 Escolas, Agrupamentos, Colégios, Jardins de Infância, Institutos, Centros de Formação e Escolas Superiores e mais de 30 Bibliotecas associados. As funções do Núcleo da UNESCO (assim chamado no nosso Agrupamento) prendem-se com a educação para a Paz e respeito pelos Direitos Humanos, mas hoje vai um pouco mais longe, abrangendo também o Desenvolvimento Sustentável, a Cidadania e a Diversidade Cultural, entre muitas outras questões emergentes na nossa atualidade.

Tivemos uma conversa com a Ana Fermoselle para tentarmos saber um pouco mais acerca do Núcleo da UNESCO, do que promove e como o promove.

AEAR – Tendo em atenção as funções de educar para a Paz e respeito pelos Direitos Humanos e sendo este um Agrupamento de Escolas que abrange culturas tão diversas, a existência do Núcleo da UNESCO revela-se de grande importância. Como avalias a intervenção do Núcleo no Agrupamento?

Ana Fermoselle – Muito, muito importante! Este Agrupamento tem todas as características necessárias para o desenvolvimento de projectos no âmbito de aquilo que a UNESCO proclama.

Os 4 pilares da Educação para o séc. XXI são: aprender a Conhecer, aprender a Fazer, aprender a Ser e aprender a Viver Juntos, pelo que, abrangendo um conjunto de comunidades tão diversas como aquelas de que os nossos alunos fazem parte, o trabalho nestes 4 pilares acaba por fazer ainda mais sentido.

A coordenação nacional e internacional da UNESCO está sempre a desafiar-nos para novos projetos em áreas como a Humanidade, o Património ou o Ambiente, tratando questões sociais e desenvolvendo projetos em parceria. Este desafio não teria a mesma importância se, por um lado, o Agrupamento não fosse um espaço de ação privilegiado, dada a diversidade cultural, e por outro, se a nossa ação não fosse bem recebida.

Devido a termos tantas culturas envolvidas no nosso tecido social e dado o trabalho que temos desenvolvido na área da interculturabilidade, o nosso Agrupamento recebeu, no ano passado, o Selo de Escola Intercultural. Aproveito para lembrar o trabalho extraordinário desenvolvido pelas colegas Margarida Salvador e Antónia Ramos, com o projeto Terra Colorida, onde desenvolvem projetos de educação intercultural com os alunos.

AEAR – Como vês a influência destas ações nos alunos?

Ana Fermoselle – Muito positiva!

Há anos atrás com um projecto Comenius em que o tema principal foi a formação para uma cidadania participativa e responsável, os alunos tiveram que desenvolver no espaço temporal de 2 anos um trabalho em parceria com escolas da Polónia, França e Espanha.

Os alunos, uma turma neste caso, trabalharam com os professores temas como a Cidadania Europeia, o património, o holocausto nazi, as migrações e a igualdade de oportunidades. Após muito trabalho (obrigatório) de preparação, realizado de forma transversal entre os diferentes países, para além de termos recebido os professores do intercâmbio na nossa escola-sede, e também os estudantes franceses, os alunos que participaram no projeto fizeram a sua primeira mobilidade a Paris e a segunda a Cracóvia e Auschwitz.

Neste último local, a perceção do que sucedeu a jovens da idade deles, naquele tempo, em comparação com o levantamento que fizeram das suas próprias comunidades, dos problemas existentes no seu bairro, escola e turma, levou a que começassem a ver a realidade com outros olhos. Perceberam isso e tornou-se evidente para eles, no resto do ano escolar, que se não se tratarem as questões culturais existentes com mais respeito, com mais tolerância, no final as coisas poderão vir a acabar em outro holocausto como o que ocorreu na 2ª grande guerra.

A influência do projeto na postura, nas relações daqueles alunos com os seus pares, foi efetiva!

AEAR – O desenvolvimento destes projetos com os alunos, só é possível com a colaboração dos professores. Como levas a cabo a construção dessa relação com os professores?

Ana Fermoselle – O nosso maior problema é a dificuldade em criar uma equipa estável ao longo do tempo. Por exemplo: dos professores que participaram no projeto de que falamos, apenas duas professoras (para além de mim, está claro) continuam a trabalhar cá na escola.

Todos os anos tens de recomeçar todo o trabalho, de conhecer os colegas, de criar empatias, dar a conhecer cada projeto e por fim desafiar os colegas a participar.

Os professores e diretores de turma são a nossa ligação aos alunos. São eles que, após a nossa exposição do projeto, podem desenvolver o trabalho com eles, durante as suas aulas e enquadrar a participação no projeto com os objetivos curriculares. É a descontinuidade do professor (que hoje está, mas para o ano pode não estar) que dificulta o trabalho e condiciona os resultados, mas querer é poder!

AEAR – Como é a aceitação?

Ana Fermoselle – A aceitação é boa e, nos alunos, é tanto melhor quanto implique uma saída fora da escola, fora do país.

AEAR – Essas saídas, exigem algum esforço financeiro, correto? De onde provêm os apoios para as saídas dos alunos ao estrangeiro, por exemplo?

Ana Fermoselle – Nós não temos apoios. A Comissão Nacional da UNESCO depende do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas não estão aptos a apoiar-nos financeiramente. O desafio é feito e o apoio é apenas institucional, o apoio financeiro somos nós que devemos encontrar. A autarquia tem ajudado (e muito), os Encarregados de Educação e a Escola também comparticipam. Curiosamente o tecido empresarial que no Concelho de Oeiras é tão significativo, não participa ou não tem mostrado interesse em ajudar no financiamento dos projetos.

Por exemplo: No ano passado levámos um grupo de alunos à sede das Nações Unidas em Nova Iorque, enquadrado no projeto Atlântico das Escolas Associadas da UNESCO, de Educação para a Cidadania e Desenvolvimento Sustentável. Foi preciso um enorme esforço financeiro para o concretizar, tendo apenas sido possível com o apoio da autarquia. As empresas contactadas, ou simplesmente não responderam ou, delicadamente se escusaram.

AEAR – Qual foi o objetivo desse projeto?

Ana Fermoselle – O principal objetivo foi Dar Voz aos Jovens nas Nações Unidas. O tema foram os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável constantes na Agenda 2030. Os alunos dos 10º, 11º e 12º anos desenvolveram um trabalho que apresentaram e deixaram na sede das Nações Unidas, mais propriamente na Office of the Secretary-General´s Envoy on Youth.

Dentro deste mesmo tema, os alunos do secundário, vão este ano à Escola Secundária de Sá da Bandeira, Santarém, apresentar um trabalho. É o XXI Encontro Internacional de Jovens Cientistas das Escolas Associadas da UNESCO, um fórum de jovens estudantes de Portugal, Espanha, Andorra, Alemanha, Itália, EUA, Brasil, Angola e S. Tomé e Príncipe, onde o tema a debater é os Oceanos: “Que oceanos queremos para o futuro?”

Este ano o trabalho foi desenvolvido com professores de Biologia. Os alunos do 10º ano de Ciências e Tecnologias desenvolveram um trabalho sobre a influência da comunidade de fumadores no mar. De forma algo resumida, os restos dos cigarros que são deitados fora, as beatas, por ação das forças da natureza acabam por chegar ao mar, contribuindo de forma muito significativa, mais do que tu ou eu pudéssemos imaginar, para a contaminação da vida oceânica e, por consequência, para contaminação da nossa vida através dos chamados microplásticos.

AEAR – O que está mais previsto para o presente ano?

Ana Fermoselle – Este ano estamos ainda a dar continuidade ao Projeto Atlântico, dando voz junto das instituições que nos representam a uma faixa etária mais jovem, levando um grupo de alunos do 8º ano à sede da UNESCO, Paris, no projeto que intitulámos “Building Bridges, Learning Citizenship”.

Mais uma vez os trabalhos estão centrados nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Os alunos estão a elaborar uma Carta de Intenções com as suas reflexões sobre os problemas locais e mundiais e respetivas propostas de solução, a apresentar e entregar junto da Diretora-Geral da UNESCO e da Coordenadora Internacional das Escolas Associadas da UNESCO.

Apesar de os alunos terem a perceção que este tipo de trabalho que desenvolvem não irá ser facilmente acolhido pelas entidades governativas, pois poderá não trazer contrapartidas económicas, o facto de ser pensado primeiro a nível local – na turma, na escola, na família ou no bairro – leva a um entendimento do género “certo, eu não consigo mudar o mundo com isto mas posso ajudar a mudar o mundo ao pé de mim”.

Conseguimos assim através deste tipo de projetos que os alunos tenham influência junto dos seus pares, dos seus amigos, dos seus familiares, que passem a mensagem, que ajudem a educar, na medida em que eles mesmos tomam consciência dos problemas e alteram os seus comportamentos e deixamos que eles, os jovens, também nos eduquem, num processo que cada vez mais se quer bi-direcional, de cá para lá e de lá para cá.

O gabinete de comunicação do Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro agradece a disponibilidade da professora Ana Fermoselle.

Ana Fermoselle, Coordenadora Nucleo  UNESCO AEAR
Ana Fermoselle, Coordenadora Nucleo UNESCO AEAR